Mauro Mota
As mãos leves que amei. As mãos, beijei-as
nas alvas conchas e nos dedos finos,
nas unhas e nas transparentes veias,
Mãos, pássaros voando nos violinos.
Abertas sempre sobre os pequeninos,
mãos de gestos de amor e perdão cheias.
Mãos feitas para construir destinos
no céu, no mar, nas tépidas areias.
As mãos que amei em todos os instantes.
A carícia das mãos que iam colhê-las
eram as rosas que colhiam antes.
Se parecem dormir, não as despertes.
As mãos que amei, que desespero vê-las
cruzadas, feridas, lânguidas, inertes!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Alphonsus de Guimaraens
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão — “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria... ”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — “Por que não vieram juntos?"
Gregório de Matos
Alma gentil, espírito generoso,
Que do corpo as prisões desamparaste
E qual cândida flor em flor cortaste
De teus anos o pâmpano viçoso;
Hoje, que o sólio habitas luminoso,
Hoje, que ao trono eterno te exaltaste,
Lembra-te daquele amigo a quem deixaste
Triste, confuso, absorto e saudoso.
Tanto a tua vida ao céu subiste,
Que teve o céu cobiça de gozar-te,
Que teve a noite inveja de vencer-te.
Venceu o foro humano em que caíste,
Goza-te o céu, não só por premiar-te
Senão por dar-me a mágoa de perder-te.
Alda Lara
Não chores Mãe... Faz como eu, sorri!
Transforma as elegias de um momento
em cânticos de esperança e incitamento.
Tem fé nos dias que te prometi.
E podes crer, estou sempre ao pé de ti,
quando por noites de luar, o vento,
segreda aos coqueirais o seu lamento,
compondo versos que eu nunca escrevi...
Estou junto a ti nos dias de braseiro,
no mar... na velha ponte... no Sombreiro,
em tudo quanto amei e quis prá mim...
Não chores, mãe!... A hora é de avançadas!...
Nós caminhamos certas, de mãos dadas
e havemos de atingir um dia, o fim..
João Carlos Teixeira Gomes
Minha única certeza é minha morte.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos.
Pode vir de mansinho a forasteira
Ou numa orgia de ossos e fanfarras,
Com dois laços de fita na caveira
E o ágil chocalhar das finas garras.
Eu que os mares amei, e o sol tirânico,
Os flavos grauçás de dorso enxuto,
As moças de maiô e o vento atlântico,
Sereno hei de esperá-la em meu reduto.
E assim ao ver-me, sem sinal de pânico,
A própria morte se porá de luto.