Cruz e Sousa
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.
Morre com alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário
Do teu sonho no Templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Mauro Mota
Eternizo os teus últimos instantes:
quero esquivar-te ao derradeiro arquejo;
quero que, aos meus ouvidos, ainda cantes
nossa canção de amor, quero; desejo
ter-te ao meu lado como tinha dantes.
Na fronte exausta, do outro mundo um beijo
sinto. Foz de tua alma. Bem distantes,
seus cabelos castanhos soltos vejo.
Tinha a certeza de que voltarias.
Ouviste a minha voz, e de mãos frias
chegas ansiosa! (Foi tão longa a viagem!)
Que palidez na face! Inutilmente
busco abraçar-te: Foges, que és somente
sombra, perfume, ressonância, imagem.
Pe. Antônio Tomás
No regaço da mãe desventurada
Eis desfalece a filha pequenina...
– Assim no fraco hastil pende a bonina
Quando não bebe o pranto da alvorada.
Ó tu, que vais passando pela estrada,
Tem piedade da lânguida menina;
Tem compaixão daquela flor franzina,
Consola a triste mãe desesperada.
Dá-lhe ao menos um pão com que alimente
O pequenino ser que se consome,
Salva da morte a mísera inocente.
Que nada existe igual à dor sem nome,
Ao desespero atroz que nalma sente
A mãe que um filho vê morrer de fome.
Olavo Bilac
Vivendo para a morte, alegre da tristeza,
Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea,
Gelaste no cilício, em ascética fúria,
A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.
Foste mártir e herói da própria natureza.
Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,
Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,
A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.
Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,
Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados:
Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,
Pagarás sem amor os dias dissipados!
Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,
Mortal, entre os mortais, de todos os pecados!
Alvarenga Peixoto
Eu vi a linda Estela e, namorado,
Fiz logo eterno voto de querê-la;
Mas vi depois a Nize, e a achei tão bela
Que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vier aqui, morro por ela;
Se Estela agora vier, fico abrasado.
Mas, ah! que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros braços,
E esta não me quer, por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços:
- Faze de dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em dois pedaços!