Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Juvenal Antunes

Eu vou-me embora antes que chova. E ela,
que perto dele estar sempre queria,
o espaço olhou com expressão singela...
nem uma nuvem pelo espaço havia

De quando em quando na azulada tela
uma estrela, luzindo, aparecia.
Fora, talvez, para ofendê-la, aquela
frase cruel que tanto lhe doía

Fora de certo. Não valia a pena
amá-lo tanto. Louca! Ela o condena
e olhando o céu como implorando calma

viu mais estrelas pelo céu fulgindo,
qual se estivessem murmurando e rindo
da tempestade enorme de sua alma.

Luís Guimarães Júnior

Como é ligeiro o esquife perfumado
Que conduz o teu corpo, ó flor mimosa!
Mal pousaste entre nós, alma saudosa,
Pouco adejaste, ó querubim nevado!

E vás descendo ao túmulo sagrado,
Igual à incauta e leve mariposa
Que sem sentir queimou a asa ansiosa
Do mundo vil no fogo profanado.

Mas eu, que acabo de te ver perdida
Nos abismos sem fim da Natureza,
Ó minha filha! Ó terna flor caída.

Eu, que perdi contigo a fortaleza,
As ilusões, o gozo, a crença e a vida,
Ah! Eu bem sei quanto esse esquife pesa!

Augusto dos Anjos

A Dor meu coração torça e retorça
E me retalhe como se retalha
Para escárnio e alegria da canalha
Um leão vencido que perdeu a força!

Sobre mim caia essa vingança corsa,
Já que perdi a última batalha!
E, enquanto o Tédio a carne me trabalha,
A Dor meu coração torça e retorça!

Cubra-me o corpo a podridão dos trapos!
Os vibriões, os vermes vis, os sapos
Encontrem nele pábulo eviterno...

- Repositório de milhões de miasmas
Onde se fartem todos os fantasmas,
Primavera, verão, outono, inverno!

Pe. Antônio Tomás

Tive sonhos azuis, na mocidade,
Que vinham, como pássaros em festa,
Encher-me o seio – um canto de floresta –
De gratos sons, de viva alacridade.

Mas um dia a cruel realidade
Pôs-lhes em cima a rude mão funesta
E exterminou-os... Nenhum mais me resta
Na minha negra e triste soledade.

Hoje o meu seio inerte, mudo e frio,
Se converte em túmulo sombrio
Por sobre o qual gementes e tristonhos,

Alvejantes fantasmas se debruçam:
São as meigas saudades que soluçam
Sobre o jazigo eterno dos meus sonhos.

Artur de Sales

Na silenciosa catedral vetusta
Penetrei; religioso e solitário,
Numa concentração de missionário
Sublimizado numa fé robusta.

De um Cristo macilento e funerário,
Braços abertos sobre a cruz adusta,
Vinha uma doce claridade augusta,
Que iluminava todo o santuário.

Aos pés da imagem do Crucificado
Chorei, por muito tempo, ajoelhado;
Mas, quando o olhar ergui, tremi de espanto:

Do altar, por entre as sombras, fugidias,
— Oh! ironia atroz das ironias! —
Aquele Cristo ria do meu pranto...

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