Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Silva Dultra

Eu vivo a cada instante a minha vida,
assim como quem vive a própria morte,
e levo esta existência dividida
entre o ser e não ser que me conforte.

Sou onde não estou; e a minha sorte
em coisas que não tenho está medida,
até que a mesma vida me transporte
à morte desde o início já sentida.

Vão-se-me os dias de desejos plenos
em horas que se somam sempre a menos,
por onde o tempo passa e a vida flui.

O meu destino escorre num sentido
e sobre o pó do que terei eu sido
repousa a sombra do que sempre fui.

Virgílius

Quem dera, o amor, que ela agora sente
Por alguém... Devotado e comprometido,
Fosse a mim, e apenas a mim, oferecido
Eu seria feliz... ... - E pela vida contente -

Quem dera, os seus lábios, docemente
Balbuciassem, mentindo, que me amava.
Dessa doce mentira eu me alimentava...,
Pra viver me enganando..., Eternamente.

Mas ela não sabe desse amor sentido.
- Devotado amor que eu trago comigo -
Até quando, não sei..., Só o tempo dirá.

E mesmo amanhã, ela lendo esses versos,
Há de ficar, por instantes, se perguntando:
- Que mulher será esta? E não saberá...!!!

Pe. Antônio Tomás

Nos canteiros orlados de verdura,
De mil gotas de orvalho umedecidas,
Cheias de viço e de perfume ungidas,
Desabrocham as rosas a ventura.

Mas a vida das rosas pouco dura,
E em breve a desgraça enlanguescida
A fronte curva nos hastis pendida,
A um raio de sol que além fulgura...

E vão perdendo as pétalas mimosas,
A um sopro mal dos vendavais infestos,
É o despojo final das tristes rosas...

E de cor vermelha pelo chão tombados
Fazem lembrar sanguinolentos restos
De pobres corações despedaçados.

Artur Azevedo

Todo o cuidado nestas rimas ponho;
Musa, peço-te, pois, que me remetas
Versos que tenham rútilas facetas,
E não revelem trovador bisonho.

Meia noite bateu. Sai risonho...
Brilhava - oh, musa, não me comprometas! -
O mais belo de todos os planetas
N'um céu que parecia um céu de sonho.

O mais belo de todos os prazeres
Gozei, à doce luz dos olhos pretos
Da mais bela de todas as mulheres!

Pobres quartetos! míseros tercetos!...
Musa, musa infeliz, dar-me não queres.
O mais belo de todos os sonetos!...

Alberto de Oliveira

A alma dos meus vinte anos noutro dia
Senti volver-me ao peito, e pondo fora
A outra, a enferma, que lá dentro mora,
Ria em meus lábios, em meus olhos ria.

Achava-me ao teu lado então, Luzia,
E da idade que tens na mesma aurora;
A tudo o que já fui, tornava agora,
Tudo o que ora não sou, me renascia.

Ressenti da paixão primeira e ardente
A febre, ressurgiu-me o amor antigo
Com os seus desvarios e com os seus enganos...

Mas ah! quando te foste, novamente
A alma de hoje tornou a ser comigo,
E foi contigo a alma dos meus vinte anos.

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