Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Walter Pereira Pimentel

Sei o que quero, sei que te quero
Digo isto com pureza d’alma
Com paciência, com calma...
Sem me desesperar, te espero

Até quando valerá a pena te esperar?
Quando se sonha, se deseja, se quer, enfim
Quando se ama realmente, assim
Com entrega e paixão, esperar é amar

Saibas que te esperarei até quando puder
Nesta vida ou numa outra, se além desta tiver
Neste ou em outro plano

Na terra, no céu, na eternidade...
Pelos caminhos da felicidade
Onde possa dizer: te amo!

Olavo Bilac

Falei tanto de amor!... de galanteio,
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio...

O verdadeiro amor, honra ou desgraça,
Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.

Não proclamei os nomes, que, baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho.

Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E, quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.

Alberto de Oliveira

Baixando à Terra, o cofre em que guardados
Vinham os Males, indiscreta abria
Pandora. E eis deles desencadeados
À luz, o negro bando aparecia.

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia,
Todos os Vícios, todos os Pecados
Dali voaram. E desde aquele dia
Os homens se fizeram desgraçados.

Mas a Esperança, do maldito cofre
Deixara-se ficar presa no fundo,
Que é última a ficar na angústia humana...

Por que não voou também? Para quem sofre
Ela é o pior dos males que há no mundo,
Pois dentre os males é o que mais engana.

Bernardino Lopes

Velho muro da chácara! Parcela
Do que já foste: resto do passado,
Bolorento, musgoso, úmido, orlado
De uma coroa víride e singela.

Forte e novo eu te vi, na idade bela
Em que, falando para o namorado,
Tinhas no ombro de pedra debruçado
O corpo senhoril de uma donzela…

Linda epoméia te bordava a crista;
Eras, ao luar de leite, um linho albente,
Folha de prata, ao sol, ferindo a vista.

Em ti pousava a doce borboleta…
E quantas noites viste, ermo e silente,
Romeu beijando as mãos de Julieta!

Jaime Guimarães

Fomos... E quem nos visse pensaria:
- Que almas felizes! que casal ditoso!
- Como ele vai a estremecer de gozo!
- E ela como é formosa! que alegria!

Voltei sozinho e ao meu passar ouvia:
- Que olhar magoado!... Como vai choroso!
E uma voz que sangrou meu peito ansioso:
- Louco daquele que no amor confia!

Falena! à luz de um riso eis-te perdido!
Foste cheio de fé, voltas descrido,
E o desengano teu caminho junca...

- "Hás de esquecê-la", ouvi dizer ao lado...
Meu coração responde estrangulado:
"Odiá-la, sim, mas esquecê-la, nunca!"

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